Sabe aquele dia em que você dormiu pouco, virou e revirou na cama, acordou de mau humor, olhou-se no espelho insatisfeito com a silhueta rechonchuda, brigou com um colega de trabalho e voltou para casa exausto, achando que o melhor a fazer é sair correndo por aí para fugir de tudo isso? Pois bem, siga seu instinto: corra.
Corra, porque é exatamente isso que quatro milhões de brasileiros estão fazendo atualmente. Corra, não para fugir dos problemas, mas para enfrentá-los, para emagrecer, melhorar o humor, ganhar fôlego, retardar o envelhecimento, dormir bem e ter mais ânimo.
Está provado que correr, como qualquer atividade física, tem um impacto muito positivo na qualidade do sono. Isso significa que os atletas, mesmo que durmam pouco, conseguem ter um sono reparador. É um pedido do organismo. "O desgaste causado pelo exercício é tão intenso que é como se o corpo exigisse a recuperação durante o sono", explica Hanna Antunes, pesquisadora do Centro de Estudo em Psicobiologia e Exercício da Universidade Federal Paulista (Unifesp). "E isso acontece. O sono de quem faz exercício é menos fragmentado e mais restaurador." Além disso, o exercício ameniza os efeitos da privação do sono. Uma pessoa sedentária que fica sem dormir ou dorme pouco terá um dia seguinte infernal: mau humor, irritabilidade, falta de concentração. Um atleta, ao contrário, terá essas repercussões amenizadas nas 24 horas seguintes, segundo estudo conduzido por Hanna.
Uma entusiasmada vida social favorece hoje a paixão por correr. "As corridas de rua são verdadeiros parques de diversão, com muita gente, muita alegria, em um ambiente saudável e familiar", opina o fisiologista Renato Romani, da Unifesp.
Quem já deu as primeiras passadas sabe que correr nunca é um ato solitário, mesmo quando se corre sozinho. Solidão é uma palavra que não existe quando o suor escorre da testa e o relógio cobra desempenho das pernas. Corre-se sempre consigo mesmo, pelo esforço pessoal, pela sensação de bem-estar. Ou contra você, seu tempo, a ambição de se superar a cada volta, elevando a autoestima. "Melhorar minhas marcas, meu desempenho, me estimula demais", diz a treinadora de corrida Cinthya Portella, 29 anos, que treina seis dias por semana.
Segundo uma pesquisa da Universidade de Stanford (EUA), o esporte também ajuda na luta contra o relógio biológico. Depois de analisar a evolução do estado de saúde de 538 corredores durante 20 anos, os cientistas concluíram que a prática regular da corrida adia o desgaste sobre o corpo promovido pelo envelhecimento. Entre outros benefícios, os praticantes têm mais tempo de vida ativa e menos chance de morrer de doenças como o câncer.
Correr vicia por conta de um fenômeno na química cerebral. Após 30 minutos da atividade, a produção de endorfinas é tanta que provoca picos de euforia e ondas de êxtase. "O benefício mental que sinto é imenso", diz a carioca Cynthia Howlett, apresentadora do canal a cabo GNT. Ela corre três vezes por semana. "Depois, me sinto como se tivesse tomado um banho de cachoeira", diz. Esse tipo de sensação, desencadeada pelas endorfinas, cria dependência positiva, desde que sejam respeitados os limites do corpo.
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